Nery Fabres

O fantástico mundo novo

Por Nery Fabres
Diretor da Sobloco Construtora e membro do Conselho Consultivo do Secovi-SP

O ar quente da entrada da primavera neste ano de 1770 furtava as impressões negativas causadas pelo inverno rigoroso, as chuvas mornas eclodiam as sementes jogadas na terra por homens, pássaros ou pelos ventos que sopravam rajadas fortes.

A Lagoa dos Patos empurrada pelo ar em movimento contínuo em direção à costa cuspia as águas no paraíso verde daquela época do desenvolvimento da Vila de São Pedro... que insistia em crescer e dominar o cenário econômico local.

A extensão da região dos pastos de campo aberto entrava na Lagoa dos Patos... os pampas se estendiam para baixo da América do Sul... passando pelo Uruguai.

As águas desta laguna perdiam a salinidade a cada passo em direção ao Sul... já quase doces dividiam a porteira com outro reservatório conhecido como o segundo maior da Colônia Portuguesa nestas “terras brasilis” (termo usado pelos navegadores Lopo Homem e Pedro Reinel, entre outros em fim dos anos de 1400 e início dos anos de 1500), esse grande reservatório natural passou a ser conhecido como Lagoa Mirim, as duas lagoas se tornaram os principais caminhos navegáveis, uma de águas doces e outra com a entrada do sal do mar.

O longo e esplêndido Canal São Gonçalo era essa ligação.... abastecido pelo Rio Piratini, adiante dele a Lagoa Mirim de águas formidavelmente límpidas trazia suas águas de seus afluentes mais distantes, o rio Cebollati e o rio Tacuari, no Uruguai... e aqui mais perto do São Gonçalo, no lado brasileiro, descem as águas do rio Jaguarão... ainda entre a Lagoa Mirim e o Oceano Atlântico há a Lagoa Mangueira, mais águas doces que cruzam o caminho do gado distribuído nas terras de fazendeiros portugueses e espanhóis.

Gente que se apossou rapidamente das terras indígenas com direitos obtidos por tratados internacionais e posteriormente reconhecidos pela Colônia Portuguesa neste solo que mais tarde foi o berço da nobreza de todas as pátrias europeias.

Depois da vinda dos casais açorianos com sementes e técnicas agrícolas, do gado em quantidade o suficiente para enriquecer esta região, veio a igreja marcar espaço na composição social e política, os militares instalarem seus fortes, veio a burguesia assumir os tribunais, tabelionatos, comércio, transportes marítimos.

O mundo novo mostrava a diversidade de raças, trazia as altas castas da Europa, buscava fortalecer o comércio de escravos, prometia posse de terras aos trabalhadores rurais, distribuía patentes aos militares mais perversos e ambiciosos... a navegação se estendia desde o Porto Velho de Rio Grande ao Uruguai.

O andar dos barcos caia por rios, por canais distribuindo direitos de comércio por toda a região... a amplitude da beleza geográfica, a perfeição da natureza, do clima tropical mesclando temperaturas amenas faziam dos homens, mulheres e crianças seres otimistas... cada semente jogada na terra brotava, o gado multiplicava, as farturas colhidas da terra e a fácil navegação para o comércio desta variedade de alimentos criaram balcões de negócios por todos os cantos.

Velas apontavam por cima das copas das matas ciliares, os mastros encerados ou pintados com seivas de árvores locais coloriram a imensidão da laguna... as embarcações zuniam empurradas por correntes de ar e água... vozes humanas se confundiam com o vozerio da natureza majestosa que se manifestava exuberante.

Tarãs bailavam no ar, jacarés-de-papo-amarelo corriam na branca areia que cobria as vegetações lindeiras da laguna, garças brancas revoavam em bandos... as cigarras cantavam em alto som anunciando a vida despertando, as libélulas cortavam a frente dos barcos, caravelas disputavam a espuma das águas com os botos brincalhões.

Rio Grande estava surgindo com uma expectativa de se tornar o maior centro comercial do Sul das Américas... (continua)​

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